Treino por Tentativas Discretas (DTT): Mito da Robotização e Abordagens Atuais

Discrete trial teaching (DTT), em português é o treino por tentativas discretas, pode ser definida como uma estratégia estruturada da Análise Comportamental Aplicada (ABA) e tem como objetivo ensinar novas competências a um indivíduo. Cada tentativa segue um ciclo que começa com uma instrução clara, à qual se espera uma resposta do indivíduo. Se a resposta for correta, há um reforço positivo imediato, como elogios ou uma ação; se for incorreta ou ausente, o terapeuta pode repetir a instrução ou fornecer apoio adicional. Este método permite múltiplas oportunidades de aprendizagem, o que torna a aquisição de competências mais eficaz. Neste sentido, é uma metodologia utilizada em diversos contextos, especialmente educativo e terapêutico, com uma eficácia amplamente comprovada na aquisição de competências cognitivas, de comunicação, sociais e de autonomia.

Apesar da sua eficácia, surge, por vezes, associada a uma abordagem robotizada, com respostas mecânicas e inflexíveis. Antigamente, o DTT era aplicado de um modo, bastante rígido e repetitivo, o que poderia dificultar a generalização das aprendizagens em diferentes situações. Atualmente, esta prática foi alterada, passando a incorporar diversas adaptações que evitam a mecanização das respostas e promovem uma aprendizagem mais funcional. A introdução de reforços variados permite evitar a repetição excessiva e tornar o processo mais natural e agradável para o indivíduo. Por outro lado, a interação naturalista favorece a sua aplicação em diferentes contextos (escolares e quotidiano). Outra adaptação importante foi a inclusão da aprendizagem em atividades lúdicas, tornando a aprendizagem mais envolvente e menos rígida. A generalização ativa também é promovida desde o início, garantindo que os conhecimentos adquiridos possam ser utilizados em diferentes cenários e com diferentes intervenientes. 

Em suma, o DTT é, atualmente, aplicado de forma personalizada, respeitando o ritmo e os interesses de cada indivíduo. Assim, esta abordagem mantém-se uma ferramenta valiosa dentro da ABA, mas evoluiu para assegurar que as aprendizagens são naturais, flexíveis e realmente úteis no dia-a-dia, evitando qualquer tipo de robotização dos indivíduos.

Raquel Fragoso, MS, Psicóloga e Terapeuta Comportamental