Análise Comportamental Aplicada no nosso dia-a-dia

A Análise Comportamental Aplicada, conhecida como ABA (Applied Behavior Analysis), é uma abordagem científica amplamente utilizada para a compreensão e modificação do comportamento humano. A sua origem remonta aos primórdios da teoria do Comportamento de B.F. Skinner, considerado o principal autor e impulsionador desta abordagem.

O principal objetivo da Análise Comportamental Aplicada consiste em melhorar a qualidade de vida dos indivíduos através da análise, compreensão e previsão do comportamento. Sendo a intervenção focada nos comportamentos socialmente significativos de cada indivíduo, de modo a contribuir para a melhoria da sua qualidade de vida, ao nível da linguagem, competências sociais, académicas, autonomia, etc. (Andreadi et al., 2018).

Esta abordagem tem como base diversas estratégias e princípios de aprendizagem, nomeadamente o reforço positivo (apresentação de um estímulo agradável após um comportamento desejado, com o objetivo de aumentar a frequência desse comportamento); reforço negativo (remoção de um estímulo aversivo para aumentar a frequência de um comportamento desejado); extinção (retirada do reforço que mantém o comportamento); uso de reforços (tangíveis e/ou sociais baseado no que é mais motivador para o indivíduo) e modelagem (demonstração do comportamento desejado). Ao longo de todo o processo são ainda registados e analisados dados para que seja possível acompanhar o progresso e ajustar as intervenções conforme necessário (Yu et al., 2020).

Assim, os princípios e estratégias utilizadas na terapia ABA não se limitam ao contexto clínico ou educacional, estando também presentes e influenciando significativamente diversas áreas do nosso dia-a-dia, como:

·   Educação: em contexto escolar, o reforço positivo e negativo pode ser utilizado para incentivar a participação e o bom comportamento dos alunos, através de elogios, notas altas ou autocolantes e medalhas. Por outro lado, a modelagem na aprendizagem da leitura e escrita ou o uso dos comportamentos adequados dos alunos como modelo.  

·   Parentalidade: os pais e encarregados de educação frequentemente utilizam reforço para ensinar e/ou incentivar comportamentos desejados nos filhos. Como exemplos, podemos ter desde o elogio ou prémios por ajudar nas tarefas domésticas, como na realização das rotinas diárias de forma autónoma;

·   Ambiente de trabalho: No ambiente mais cooperativo o reforço positivo pode ser utilizado para aumentar a produtividade dos funcionários, através de diversas iniciativas, como o “funcionário do mês” e os bônus de produtividade. A modelagem, por sua vez, pode ser aplicada no treino de novos funcionários e competências.

·     Desporto: No desporto os princípios ABA podem ser eficazes para o desenvolvimento de novas competências, motivação e desempenho. O treinador pode utilizar reforço positivo, como por exemplo, elogios ou recompensas com os seus atletas com o objetivo de reforçar o desenvolvimento de competências. Por outro lado, uma análise funcional pode-se constituir um ótimo aliado na identificação de possíveis fatores motivadores e desmotivadores, no sentido de planear mudanças nos treinos.  

·  Gerontologia: Na gerontologia podem estar presentes alguns comportamentos mais desafiantes como a falta de adesão aos tratamentos. Nestes casos o reforço positivo, como atividades do seu interesse e elogios podem funcionar como motivadores. A modelagem, nesta faixa etária, também pode ser utilizada para ensinar e manter competências e trabalhar a continuação da autonomia, como no tomar banho e vestir que, por sua vez, pode ser trabalhada em unidades/passos mais pequenos e ensináveis (chaining).  Desse modo, os princípios e estratégias da terapia ABA estão marcadamente presentes nas nossas vidas diárias, influenciando diversas áreas, desde a educação, a parentalidade, ambiente de trabalho, desporto e relações interpessoais. O uso consciente destas técnicas, pode assim,  criar ambientes mais produtivos, harmoniosos e motivadores, promovendo comportamentos desejáveis e contribuindo para o bem-estar geral (Watling & Schwartz, 2004).

Referências:

Andreadi, R., Charitaki, G., & Soulis, S. (2018). The Effect of Applied Behavioral Analysis on the Communication Skills in Children with Autism Spectrum Disorder: Perceptions of Special Educators and Psychologists.

Miltenberger, R. G., Baruni, R. R., & Cook, J. L. (2022). Foundational principles of ABA. In J. L. Matson & P. Sturmey (Eds.), Handbook of autism and pervasive developmental disorder: Assessment, diagnosis, and treatment (pp. 779–800). Springer Nature Switzerland AG. https://doi.org/10.1007/978-3-030-88538-0_33

Watling, R., & Schwartz, I. S. (2004). Understanding and implementing positive reinforcement as an intervention strategy for children with disabilities. AJOT: American Journal of Occupational Therapy, 58(1). https://doi.org/10.5014/ajot.58.1.113

Raquel Fragoso, MS, Psicóloga e Terapeuta Comportamental